domingo, 16 de dezembro de 2012

ALERTADO EM 2007 SOBRE A SECA, AGRICULTOR ESTOCOU ALIMENTO E ÁGUA E SE MANTÉM PRODUTIVO

 



Mesmo diante de uma das mais longas estiagens dos últimos 30 anos, o agricultor baiano Abelmanto de Oliveira mostra que com boas ideias e coragem é possível conviver com a seca, criando animais adaptados ao clima Semiárido
No ano de 2007, o agricultor baiano Abelmanto Carneiro de Oliveira viajou ao Juazeiro da Bahia para o (irpaa) para participar de um encontro, (escola de convivencia com o semiárido). Foi lá que ouviu dizer que no meado do anos de 2011 a 2012 uma estiagem braba estava pra vir, onde seria difíceis para as populações que habitam o Semiárido brasileiro. O recado serviu como um alerta de tsunami para quem vive em regiões suscetíveis a este tipo de fenômeno da natureza. Contrário à onda gigante que varre cidades inteiras, o Semiárido foi varrido pela falta de chuvas. Porém, a seca que é evidenciada como uma das piores dos últimos 30 anos, não afligiu tanto assim Abelmanto. Dotado de conhecimento e tecnologias sociais de convivência com a região, o agricultor garantiu estocagem de água e alimentos para os animais e de consumo próprio. A atitude de Abelmanto comprova o quanto é possível se preparar para os períodos de estiagem, investindo na estocagem.
Agricultor Abelmanto enfrenta estiagem com estocagem de água e alimentos. | Foto: Arquivo Asacom
 Ele conta que na comunidade de Mucambo, no município de Riachão do Jacuípe, na Bahia, a ultima chuva que caiu com intensidade foi em Outubro de 2010, choveu 56 milímetros. Muito pouco para uma região onde se espera chover cerca de 800 milímetros por ano. Hoje, ele tem na propriedade de 10 hectares as tecnologias emplantada cisterna-calçadão, cisterna de consumo humano, barreiro comum, barraginha sucessiva, barragem subterrânea e barreiro trincheira. “ Tenho uma capacidade de armazenar 1,868 milhão de litros de água. Essa água serve para manter o consumo de 55 cabeças de animais (caprinos e ovinos) e a produção de alimentos para a familia e tambem aos animais”, conta. Quando perguntado sobre o gado em suas terras, Abelmanto diz ter optado por manter o que dá mas certo para criar na região. “A convivência é assim: tem que tirar aquilo que não dá e manter aquilo que é possivel se adaptar com a região. Tenho investido muito em animais pequenos que me garante o leite para comer isso com um custo menor de manutensão”. A criação está sendo alimentada com o estoque de palma, feno e mandacaru.
Abelmanto também criou um sistema de produção de biogás, o chamado biodigestor. Com a junção de esterco dos animais e das cascas das frutas deixadas na fabricação de polpas, passou a produzir biogás e biofertilizante. Nada se perde desde agosto, não precisa mais se preocupar com gás para cozinhar os alimentos que vão para a mesa da família.
“Estou tentando passar isso para as outras famílias. Minha casa se tornou um centro de aprendizagem. Aqui damos aulas práticas de campo com crianças e adolescentes. Hoje suspendi por causa das dificuldades da seca”, revela. Quando questionado sobre o que os agricultores/as e povos do Semiárido devem fazer para conviver com os períodos de longa estiagem, ele diz: “o primeiro passo a dar é ir em busca do conhecimento, que vale tudo, [com ele] você consegue qualquer coisa. Depois, é regaçar as mangas e partir para estocar água e alimentos para esse período. Quando você acredita, arregaça as mangas, dá certo. Digo que é posível e é capaz quando as pessoas quer”, conclui.
O pensamento do agricultor é reforçado pela coordenadora executiva da ASA, Valquíria Lima, que diz que a convivência com o Semiárido esta intimamente ligada a capacidade de estocar: água, alimentos, sementes e conhecimentos. Assim, é possível estimular um novo olhar sobre a convivência que tenha na cultura da estocagem a base para o desenvolvimento das ações.
“Estocar água para o consumo humano, para a produção de alimentos da família e dos animais e estocar conhecimentos. E aprender a poupar. No Semiárido precisamos poupar água que é a base de tudo. Por isso, nosso incentivo aos intercâmbios de experiências, as vivências e os aprendizados que são coletivos e individuais. A convivência com o Semiárido passa por uma nova forma de olhar a realidade, interpretá-la, conhecê-la e ir experimentando a diversidade e fortalecendo a cultura de estocagem no Semiárido brasileiro”, avaliou.

Comunidade se fortalece na seca
Desde o início desta estiagem, as famílias de Mucambo se fortaleceram em grupo e conquistaram benefícios para a comunidade. Foi através do Projeto de educação Ambiental VIDA do SOLO que veio a parceria com o (SENAR). Serviço Nacional de Aprendizagem Rural hoje a comunidade deu um grande passo deu oportunidade para quatro famílias produzirem bolos, doces, almoços e lanches a partir de produtos da agricultura familiar. Durante seis meses de trabalho, serão fornecidas 1.200 quentinhas de almoços (cada quentinha será vendida por R$ 7,95) e lanches (cada um a R$ 1,95) para os cursos desenvolvidos pelo SENAR na região. O lucro garantirá o sustento das famílias em tempos de estiagem.
A Associação também já conquistou outros benefícios como aquisição de trator, cisternas, bombas e barreiro trincheira, além de eletricidade para 66 famílias. O salto adiante é para se constituir como uma cooperativa, passar a emitir nota fiscal e construir uma sede própria. “Estamos otimistas, pois somos capazes de produzir e comercializar. Hoje eu sou um articulador da comunidade, pelo conhecimento que adquiri. Aqui ainda existe a cultura de não fazer estoque. Mas eu sempre digo: gente, o caminho é esse. Comecei a fazer algo para dizer que isso é possível. É possível viver com simplicidade na nossa região”, conta orgulhoso Abelmanto  (Texto tirado da
Asacom)

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